09 novembro 2005

 

Quem tem boca...

A televisão (assim como o rádio) é um meio de comunicação em massa em que poucos falam para muitos, como se diz. São símbolos do século 20. Os discursos dos ditadores na década de 30, dos políticos na 2ª Guerra, o homem na Lua, as Copas do Mundo ao vivo, massacres, guerras e acordos de paz.

Email, IRC, fórum de discussão, chat, ICQ, MSN, mensagem de celular, blogs, Gaim, Orkut, Google Talk... numa época em que se esperava que todo mundo tivesse o seu carro voador e seu videofone, essas tecnologias ajudaram a ressuscitar o caquético hábito de escrever. As pessoas gostam de se comunicar, precisam disso, e coisas como a internet são um grande avanço. Diferente de antes (e pela primeira vez), falar é quase tão fácil e barato quanto ouvir, principalmente para muita gente ou com quem está do outro lado do mundo.

Só que ainda estamos falando escrevendo, porque falar falando, ou melhor ainda, olhando, ainda é muito caro. Não por muito tempo, pelo que parece. Com a popularização da banda larga, fica cada vez mais fácil ter conversas com voz ou vídeo, como já pode ser feito (ainda mal e porcamente) com muitos dos programas que já existem. Já dá para fazer ligações pela internet para telefones comuns. Esse tipo de coisa vai ficar tão comum que não vai fazer muita diferença digitar uma mensagem ou mandar logo uma mensagem com voz e vídeo.

Será que abandonaremos o hábito de escrever tão rápido como o resgatamos? Conversar usando só texto é prático. A aparência não importa, podemos ser qualquer coisa e temos muito mais tempo para pensar em como continuar uma conversa. O tempo naturalmente se alonga, desacelera. Não esperamos que a pessoa responda na hora (por mais irritante que isso possa ser, às vezes).

Por outro lado, se limitar à escrita tem suas desvantagens. Não podemos saber quem está do outro lado, o que está fazendo, que cara fez quando leu o que você escreveu. Fica muito fácil inventar pessoas, e essas pessoas sempre são exatamente do jeito que a gente quer (que coincidência...). Se a conversa é "ao vivo", não saber digitar (ou pelo menos datilografar) pode atrapalhar. Não poder digitar (leia-se LER, DORT e outras siglas bisonhas) passa a ser uma grande limitação.

Tem coisas que só da para dizer falando e mostrando de verdade, não tem texto que expresse. É por isso que, sempre que der, as pessoas vão preferir se comunicar com voz e vídeo. É claro que aos poucos se aprende a aproveitar as vantagens de cada meio. Ninguém vai mandar uma mensagem de vídeo para o chefe, dizendo que está doente, com direito a som de gaivotas, um mar ensolarado no fundo e um sujeito gritando "Olha o milho, olha o miiilho!". As pessoas vão aproveitar esse grande poder de comunicação para se expressar, como já fazem com os blogs, os flogs e, mais recentemente, os blogs com vídeo (videologs? vlogs?).

Todo mundo vai poder criar o seu próprio conteúdo, seu livro, sua música, seu filme, e todo mundo vai poder ver, por mais tosco que seja. Mais ainda, as pessoas vão poder acessar tudo isso de graça, porque o custo de copiar uma música ou um vídeo é próximo de zero. As proteções contra reprodução ou cópia não autorizadas não vão adiantar muito, porque tudo o que pode ser tocado, ouvido ou assistido pode ser copiado.

Não é a toa que as ditaduras e as grandes distribuidoras de mídia estejam se pelando. Se eu trabalhasse num negócio fadado à falência, também me preocuparia.



Ao som de Wonderwall, versão de Ryan Adams, da trilha de O.C.

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