caso especial

O que acontece quando alguém que acessava a internet morre? Email, sites, logs, Orkut, tudo fica ali, como se nada tivesse acontecido. Tudo isso tem senha e, a não ser em alguns poucos casos, fica ali, como um túmulo involável, esperando o dia em que a presença virtual da pessoa seja cancelada por falta de uso.

No Orkut, isso é mais comum do que se imagina. Já existem duas comunidades sobre isso: Profiles de Gente Morta e Descansem em paz.

"Mas o que são esses rastros?? Seriam eles úteis?? Um conforto para quem fica?? Uma imortalidade virtual??"

"A primeira vista, esta comunidade pode parecer um pouco sinistra, mórbida até. Mas sua função principal é a de mobilizar as pessoas de forma que a vida humana seja valorizada do jeito que ela realmente deve ser. Algumas vidas são ceifadas de forma tão rápida, tão banal, tão injusta que custamos a acreditar que o advento realmente aconteceu. Portanto, vamos valorizá-la e aproveitá-la até o último instante, ok?"

De certa forma, nossas identidades virtuais passam a ser como corpos (e depois cadáveres). Às vezes, a identidade virtual continua a ter significado:

"Certo dia entrei no orkut de um garoto e lá tinha um desabafo da mãe dele nos recados dele. Sabia que era a mãe pois ela falava que ele era um filho maravilhoso e tal. Entrei no orkut dela e no perfil estava: 'Fiz esse orkut para me sentir mais próxima ao meu filho.'"

Quando a pessoa morre, é comum que algum contato próximo da pessoa avise o mundo virtual de alguma forma. Também é comum que os amigos deixem muitos recados e testemunhos (no caso do perfil do Orkut).

"É interessante ver os scraps dos falecidos..... Parece q nas primeiras semanas a pessoa recebe varios scraps por dia.... com o passar do tempo a qtdade d scraps vai diminuindo... A impressao q da é q as pessoas vao se conformando..."

Também tem gente que se suicida virtualmente: diz no perfil que vai se matar e simplesmente pára de acessar a conta. Tem até gente que ressucita...

O que dá para aprender com isso tudo? Bom, a primeira coisa é que as ligações que existem no mundo virtual podem ser tão fortes quanto as do mundo real. É preciso pouca coisa para deixar saudades.

A segunda coisa é que, quando damos de cara com a morte, mesmo que não seja a nossa, vemos como isso tudo é incerto. De uma hora pra outra, podemos deixar de existir, sem explicação ou motivo. É nesses momentos que entendemos quando alguém diz para aproveitar a vida, viver cada momento.

Não só viver cada dia como se fosse o último, nem mesmo como se fosse o primeiro, mas como se fosse único (e é).

Carpe diem.